Depois de, com a ajuda do artigo acerca da evolução da forma urbana da cidade de Guimarães, do Arquitecto Bernardo Ferrão , definir como tipologia em estudo a habitação corrente vimaranense do período seiscentista, chegou a altura de procurar e mapear potenciais exemplares para análises mais detalhadas.

O primeiro dia de mapeamento estruturou-se num percurso entre o centro histórico classificado e a zona tampão, percorrendo algumas das ruas mais antigas da cidade: Rua de Camões e Rua de D.João I, seguindo depois, na continuidade natural do percurso, para a zona intramuros, pela Rua Egas Moniz e pela Rua Rainha D. Maria II. O percurso desenha assim uma matriz dominada por dois eixos paralelos, no sentido este-oeste. Uma segunda fase deverá vir a marcar o eixo norte-sul, nomeadamente pelas Ruas de Couros e de São Francisco.

A tipologia de ressalto é claramente dominante, ainda que sejam frequentes variações no que refere ao número de pisos, com rés-do-chão mais três, provavelmente devido a alterações e ampliações posteriores, uma vez que o último piso se encontra, de modo regular, recuado em relação à fachada. Encontram-se também, de modo mais pontual, habitações com apenas dois pisos, rés-do-chão mais um, sobretudo nas zonas extramuros de carácter predominantemente rural, como a Rua da Caldeiroa.

Pela harmonia do conjunto, destaca-se o grupo de habitações da frente sul da Rua de Camões, junto ao Convento das Dominicas: a maior sequência contínua da tipologia, ainda bem preservada e, aparentemente, ainda habitadas, com excepção de dois ou três casos, com problemas de biodegradação originados pela infestação de pombos. Apesar de alguns dos exemplares apresentarem algumas adulterações, com a substituição dos balaústres em madeira torneada por varandins em ferro, mantém-se uma leitura clara da designada “tipologia filipina”, caracterizada pela decoração mais exuberante dos elementos em madeira.

Esta tipologia, cuja designação indicia o seu surgimento apenas no final do século XVI, com o início do reinado de Filipe II de Espanha (I de Portugal), é mais comum do que se poderia antever a partir da leitura do artigo do Arquitecto Bernardo Ferrão, encontrando-se de forma consistente, sobretudo nas zonas extramuros, incluindo na Alameda de São Dâmaso. A localização, associada à própria designação, parece indiciar a sua construção mais recente do que as despojadas habitações do centro histórico, informação que terá que ser validada com um estudo mais aprofundado. Entretanto, uma pesquisa superficial destacou as Ordenações Filipinas, código jurídico vigente em Portugal desde 1603, que poderá ter importância na compreensão da evolução histórica da habitação deste período.

Do ponto de vista processual, o mapeamento em planta revela-se insuficiente, por não permitir reconhecer de imediato os casos de estudo, a sua diversidade formal e estado de conservação. Uma possibilidade alternativa, apesar de demorada, será a criação de alçados de rua completos em fotografia, que permite identificar continuidades, ritmos e variações, compreendendo também a escala e grau de adulteração dos edifícios.